A rede
Fco Heitor de Lavor Viana

Seu doutô já se deitou
Numa rede de balanço
Pr'um merecido descanço
Dispos de um dia de luta? Nunca?
Pois se deite agora,
Com menos de meia hora
Tará pornto prá labuta
Mas eu sei que o Doutô
Pru via de sua fama
Não tem rede, só tem cama
pru mode podê deitá.
Assim, doutô, não estranhe
Eu pedir que me acompanhe
Aonde vou lhe levá Vosmicê
vai pr'uma casinha
Que é feita toda de barro.
Lá tem café, tem cigarro,
Tem carne seca e pirão.
Tem prosa prá nós sorri
E mulher prá lhe servir,
Numas coisas e noutras não.
Doutô, se nós for agora
Vamos chegar de noitinha,
Vamos jantar uma galinha
Tirada lá do poleiro,
Eu não sei se o senhor gosta:
É engordada com bosta
Que come lá no terreiro.
Mas se o doutô prefere
Nós vamos comer cuaiáda
Com rapadura raspada
Misturada com farinha
É farinha de premêra
, Feita da manipueira
Guardada na camarinha.
E dispois de encher o bucho
Arma a rede no aipende
Adonde o doutô se estende
No mais completo abandono.
Mais tarde a lua aparece
Ede mansinho ela desce
Prá velar pelo seu sono.
Dormindo o senhô não vê
O que se passa no céu
Com aquele fogaréu
E a sena ali formada.
E me vem no pensamento
Que o próprio firmamento
É uma rede bem ornada.
Não é rede de internet
Ou coisa assim parecida
Que é rede desenchavida
E não foi Deus quem teceu
. A reede que tô falando
Véve sempre balançando
Com a força que Deus lhe deu.
Essa rede que eu falo
A lua, as vezes dorme nela
Como se fosse uma donzela
Esperando o seu momento.
E ela toda recatada
Dorme sempre acalentada
pelo assovio do vento.
Quando for de menhansinha
Que o doutô acordá
Garanto que vai falá
Das maravia da rede.
Vai falá com muito amô
Da zuada do armadô
Enganchado na parede.
Adispois de tanto amô

De tanto cheiro cheiroso
De tanto beijo gostoso
Nois brigamo.
Foi uma briga fatá
E na hora da partida
Chingamo,
Chingamo cuma se pode chingá.
Baiba de cururu
Mandiba de sapo seco
Eu vou pro norte
E tu vai pro sul
Num quero mais te vê
Nem pintado de caivão
Na parede do meu quintal
E se algum dia contigo eu asonhá
Eu me acordo e faço três cruz
Pru mode tu se afastá.
Eu engoli um saluço
Ele engoliu bem uns quatro
E laigamo o pé no mato.
Passou tanto do tempo
Que nem é bom rescorá.
Onte nos encontramo
Foi tanto do beijo gostoso
E tanto do cheiro cheiroso!
Depois foi que nóis se alembremo
O Brasil é tão pequeno,
Nem deu prá nos separá.
Autor desconhecido
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